A Genética do Betta

Sempre quis saber por que Bettas azuis entrecruzados produzem alguns indivíduos verdes na prole, ou por que vermelhos e amarelos não produzem laranja. Provavelmente há centenas de indagações como tais. Espero que algumas das respostas possam aqui ser encontradas.
Há basicamente dois tipos de gens. Aqueles do tipo I expressam uma relação dominante/recessiva, uma vez aos pares. O efeito do gen dominante é perceptível em relação aos caracteres cor e nadadeira. O efeito do gen recessivo não é comumente notável, a menos que seja acompanhado por um gen recessivo semelhante. Quando um gen dominante para nadadeiras longas é emparelhado por um gen recessivo para nadadeiras curtas, obtêm-se nadadeiras longas. Algumas vezes um gen recessivo produz efeitos observáveis quando acompanhado por outro dominante. Bettas “Singletail” portadores de um gen para “Doubletail” apresentam frequentemente nadadeiras mais expansivas e de base mais larga do que as de seus pais “Singletail". Os gens do tipo II alteram-se mutuamente quando ocorrem aos pares. Um exemplo clássico é o emparelhamento dos gens para cores verdes e "Steel Blue” (também conhecida como "Gunmetal Blue”, esta cor apresenta reflexos prateados quando comparada ao azul) na produção do azul.
O fato de qualquer Betta possuir todas as cores normais ou suas mutações poderá acarretar certo problema conceptual. Contudo, sob o risco de simplificar demasiadamente, pode-se afirmar que a/as cor/cores notada/notadas dependerá /dependerão da intensidade relativa e sua/suas distribuição/distribuições. Um exemplar será, por exemplo, fenotipicamente vermelho quando esta cor for muito intensa e uniformemente distribuída e as demais forem fracas em intensidade e distribuição para suplantar o vermelho. Bettas de cores consistentes frequentemente surgem apenas quando uma ou mais cores normais sofre/sofrem mutação.
Há variedades de coloração não resultantes de um único par de gens, mas produzidas por mais de um par. “Pastels", por exemplo, resultam quando verde, "Steel Blue” ou azul cobrem “Cambodian”. Exemplares brancos são obtidos por mutação combinadas de vermelho, preto e verde.
O esquema de cores indica dominância relativa no limite das cores, mas não entre elas. Têm-se geralmente observado que no verde e suas mutações dominarão outras cores quando suficientemente intensas e uniformemente distribuídas. No entanto, como resultado de intensidade e distribuição variáveis, dentro do limite das cores, mais de uma cor podem ser observadas, como em indivíduos multicoloridos. A intensidade e distribuição de qualquer cor pode ser aprimorada ou reprimida através de reprodução seletiva, dependendo dos objetivos de quem possa interessar. Pode-se direcionar esta seleção com o irituito de obter-se indivíduos vermelhos, verdes e azuis mais escuros, mais claros com mais reflexos, ou “Cambodians” de corpos mais esbranquiçados (coloração corporal em tom mais “leitoso”), e assim por diante, conforme desejado.
Suponha que você não tem certeza acerca dos gens que estejam atuando como tipo I ou tipo II. Poderá descobrir o tipo atuante em duas únicas gerações, desde que consiga muitas desovas, digamos cem ou mais ovos. Teoricamente, gens do tipo I podem ser expressos em 75% de uma desova que produza a mesma cor, mas os do tipo II não podem.
Examinemos, pois:
Primeiramente, consideremos um exemplo do tipo I. Presuma que somente a cor vermelha está presente e que apenas gens para "Extended Red” (mais denso que vermelho normal, estendendo-se ao longo do corpo e nadadeiras) (R) e “Non.Red” (amarelo substituindo o vermelho) (Y) estão envolvidos. O macho porta dois R’s e a fêmea um R e um Y. A primeira geração (Fl) será de 50% RR e 50% RY, mas todos apresentarão fenótipo “Extended Red”. Por que? cada quadrado da figura incluída representa 25%. Suponha que dois indivíduos Fl RY’s são cruzados para dar origem à segunda geração (F2). A F2 consistirá de 25% RR, 50% RY e 25% YY. Não obstante, 75% dos resultantes serão “Extended Red” e 25% “Non-Red”. Por que? Reveja o quadro de cores. Não esqueça os 75%.

Bem, e quanto a um tipo II em ação? Presuma que somente a cor verde está presente e que apenas os gens para “Extended Green” (Mais denso que verde normal, estendendo-se sobre todo o corpo exceto a cabeça, como se verifica na maioria das vezes) (C) e “Steel Blue” (S) são ativos. O macho porta dois G’s e a fêmea um G e um S. A primeira geração (Fl) será de 50% GG e 50% GS. 50% se apresentarão verdes e 50% azuis. Se dois indivíduos Fl GS’s forem cruzados e produzirem a segunda geração (F2), o resultado consistirá de 25% GG, 50% GS e 25% SS. 25% desta descendência serão verdes, 50% azuis e 25% ‘Steel Blues”. Não há como 75% da progênie possam ser da mesma cor.
Veja os esquemas de emparelhamentos dos gens cuidadosamente e saberá porque 75% de indivíduos fenotipicamente iguais não podem resultar. Reveja o quadro de cores novamente.

Os termos “fenótipos” e “genótipos” são frequentemente usados em discussões sobre Bettas. Estes, particularmente o “genótipo”, podem ser muito importantes ao adquirir-se matrizes. “Fenótipo” refere-se a qualquer característica observável. Se um indivíduo “sai” vermelho, é fenotipicamente vermelho. Um exemplar “Singletail” é fenotipicamente “Singletail”, e o mesmo verifica-se num “Doubletail” ; apresenta fenótipo “Doubletail”, etc. O que se vê é o que se tem... mas será mesmo?
O genótipo comumente refere-se à características recessivas em relação àquelas observadas. Se não houver nenhuma característica recessiva, o genótipo será igual ao fenótipo. Um Betta portador de dois gens para “Extended Red” (RR) apresenta fenótipo e genótipo vermelhos. Criadores que se ocupam com linhagens melânicas (Melano) não podem usar fêmeas melânicas, pois estas não produzem descendência viável, mas sim fëmeas “Steel Blue” portadoras de gens melânicos. Tais fèmeas apresentam fenótipo “Steel Blue”, sendo genotipicamente pretas. Com frequência, Bettas “Singletail” portam um gem para “Doubletail”. Quando reprodutores são adquiridos, é de grande ajuda conhecer-se seus genótipos. Se, por exemplo, ambos os reprodutores apresentam genótipos “Double-tail” mas fenótipos “Singletail“ produzirão descendência tanto “Doubletail” quanto “Singletail”. Portanto, você pode ter mais do que vê.
Uma vez tendo aprendido um pouco sobre o assunto, divirta-se com seu “hobby”.
QUADRO DE CORES NORMAIS E SUAS MUTAÇÕES CONHECIDAS
A.AMARELO
Muito pálido e oculto. Virtualmente sempre mascarado por outras cores. Não confundir com “Non-red”. Não observável. Não apresenta mutações conhecidas.
B. VERMELHO
Prevalece em nadadeiras ventrais, anal e caudal.
B.1 EXTENDED RED
Mais denso que o vermelho normal, estendendo-se por todo o corpo e nadadeiras. Tipo I - domina vermelho normal.
B.2 NON RED
O amarelo substitui o vermelho. Tipo I - recessivo tanto em relação ao vermelho normal quanto ao “Extended Red”.
B.3 RED LOSS
O vermelho inicial desaparece parcial-mente ou completamente a medida que o peixe cresce. Tipo I - domina vermelho normal.
B.4 BUTTERFLY
Areas que vão do transparente ao branco e ocorrem nas nadadeiras onde o vermelho é predominante com frequencia. Tipo I - domina “Non-Butterfly”, apresentando variabilidade de expressão.
C. PRETO
Prevalece em toda a extensão, atingindo sua intensidade mais fraca no abdômen e nadadeira caudal.
C.1 MELANO
O preto manifesta-se densa e extensivamente. Fêmeas melânicas são incapazes de produzir geração viável. Tipo I - recessivo em relação ao preto normal.
C.2 BLOND
A densidade melânica está intensamente reduzida, mas não ausente como em “Cambodian”. Tipo I recessivo em relação ao preto normal.
C.3 CAMBODIAN
O preto é ausente no corpo, mas ainda pode estar presente, até certo ponto, nas nadadeiras. Tipo I - recessivo em relação ao preto normal.
C.4 MARBLE
O preto se apresenta em densidades variáveis que podem se alterar com o tempo. Tipo I - A relação dominância/ recessividade não foi determinada devido à variabilidade do efeito “Marble”. Produz fêmeas pretas férteis. A variedade preta “Fertile Black” é menos densa que a “Melano”.
D.VERDE
Prevalece na área corporal posterior a cabeça e nas bases das nadadeiras.
D.1 EXTENDED GREEN
Mais denso que o verde normal, estendendo-se por todo o corpo exceto na cabeça, como na maioria dos casos. Tipo II – altera o “Steel Blue” na produção de azul, mas funciona como tipo I ao dominar verde normal. Também conhecido como “Spread Iridescence”.
D.2 STEEL BLUE
“Steel Blue” substitui o verde. A iridescência apresenta mesma intensidade que a do verde substituído.
D.3 OPACO
Uma cor iridescente e “leitosa” substitui ou se combina com “Steel Blue”. Tipo II - efeitos variáveis.
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